sexta-feira, 31 de julho de 2009

Hendaye - Look colonial

Jean

O revisor confirmou-me:
- Entra uma pessoa em Coimbra e sai em Vitoria. E lá entra outra.
Resumindo, salvo alguma reserva de ultima hora, aquele compartimento com capacidade para 8 pessoas (pelos padrões de conforto da já certamente longínqua data de fabrico do Sud-Expresso) estava, à partida, a 1/4 da sua lotação.A Iara não devia ter mais que 17 anos e tudo o que disse com convicção foi que Coimbra era um monte de escadas e paredes. Perante tanta assertividade limitei-me a sorrir e pensar que o meu avô materno e todo o seu clã que estudou ou leccionou, viveu ou morreu em Coimbra dificilmente me perdoaria grandes cumplicidades com aquela miúda.
4h
- Adios Iara. Buenas vacaciones.
Antes de voltar a por a venda amaricada com que os meus amigos gozam mas que tantas horas de sono em viagem me assegura ainda vi entrar o Jean. Com um olho semi-cerrado e outro bem remeloso ainda consegui pensar "Este gajo parece saído do Africa Minha". Cumprimentei-o e voltei a dormir. Já a chegar Hendaye descobri que o Jean, entre copos e entrevistas a músicos, tinha estado a cobrir o Festival Internacional de Jazz da capital basca mas que a sua principal ocupacao era afinal, leccionar Linguística, Tradução e Estudos Afro-americanos na Sorbonne. Cinco minutos depois e já fazíamos pontos de situação da vida amorosa de cada um. A conversa ficou a meio mas durou o suficiente para ficar a saber coisas que sou capaz de jurar que nem alguns dos seus melhores amigos sabem. Ainda que a distância e o anonimato tenham sido motivos maiores que qualquer simpatia pela minha pessoa não consigo deixar de me sentir lisonjeado. O Jean regressa a sua Paris e eu sigo para a Côte d`Azur. Antes do abraço ficou a foto

quinta-feira, 30 de julho de 2009

De partida



Provavelmente já se terão dado conta que os últimos posts andam menos lusos que o habitual. Estou de partida e, à medida que a contagem decrescente para as minhas férias avança, vou ficando mais sensível a todos aqueles que pairam por Lisboa como eu anseio pairar por outros lugares. Aquilo que vai volta e, graças a isso, vou de certeza poder contar com a mesma ajuda que estas duas dinamarquesas estavam a precisar quando as encontrei. Achei que esta imagem plena de espontaneidade seria o melhor pincel possível para ilustrar o desejo que me leva a pôr uma mochila às costas e fazer uma reserva para o meu primeiro dia de férias. Há sempre o risco de me roubarem a máquina, perder os cartões de memória e mais um sem número de possibilidades azaradas mas, pela parte que me toca, com mais ou menos fotografias, encontramo-nos por aqui

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Flower power



Acerca do estado norte-americano do Utah acho que só me via capaz de manter duas conversas. Sobre a equipa da NBA dos anos 90 (e as assistências do John Stockton e os afundanços do Karl Malone em particular) e uma comunidade religiosa conservadora maioritária. Como ela percebia tanto de basquetebol quanto a imagem sugere ficámos-nos pela minha curiosidade religiosa. Ainda fui a tempo de cometer a prodigiosa bacorada de confundir Mórmones e Amishes mas depois de meia dúzia de desculpas atabalhoadas lá voltei à carga com a minha abelhudice ecuménica.

Acabei a descobrir, entre outras coisas, que é possível ser uma mórmon orgulhosa, irmã de um dos muitos Elders que andam pelo mundo inteiro em Missão (Portugal incluído), ter bebido o primeiro copo de vinho da sua vida na véspera desta fotografia ser tirada e, ser fã incondicional do Obama, pró-casamento gay e demonstrar uma curiosidade detalhada acerca do enquadramento legal das drogas leves no nosso país ("it says something about a country doesn't it?"). Sinceramente acho que não varria tantas ideias pré-concebidas desde aquela noite em que dei boleia a um casal de Iranianos entre o Bairro alto e o Lux.

No fundo...wasn't just about the flowers was it?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Aninhas

Aninhas

Há muito que andava desejoso por tirar “esta” fotografia. Só não tinha imaginado uma mãe tão nova e bonita. Mas não foi preciso nenhum piropo fácil para que a Aninhas sorrisse. Como não lhe foi preciso pedir que se agarrasse à barriga para que ela o fizesse. Caí redondo na felicidade autista de quem ficou em mãos com tão bonita publicação. Tão redondo que me esqueci de perguntar quem aí vinha e quanto tempo faltava para chegar

Se este blogue fosse todo ele sobre moda ficava-me pela forma como o colorido da fita, da saia, do top e das tranças giravam em torno dos seus olhos e do seu sorriso. Mas como é um bocadinho mais que isso confesso-vos o seguinte. Mostro algumas destas fotografias à minha irmã com a mesma excitação com que, antes de sair de casa para uma ocasião importante, costumava passar no quarto dela e lhe perguntava:
- Achas que vou bem?
A minha irmã reconheceu a Aninhas. Parece que lhe fez um dia a única trança de tecido que já teve no cabelo. E pela 1ª vez me respondeu:
- Vais bem Zé, vais muito bem.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

E vão 100 posts – Rectângulos azuis-claros em fundo cinzento



Para mim, 6 meses de existência e 100 posts são motivos mais que suficientes para serem aqui assinalados. Isto tudo porque a minha vida mudou um pouco. Para quem passa os dias sentado num gabinete com luz natural suficiente para não ter que se queixar da vida, atende o telefone de forma estandardizada e age da maneira que lhe parece ser o melhor encontro de vontades, entre ele próprio e aquilo que dele espera a entidade que lhe retribui, este blogue representa um contraste forte. Abordar todas estas pessoas torna possível, viver momentos cujas convenções sociais em que a nossa vida se inscreve, dificilmente mo permitiriam. E depois, mais que meu, O Alfaiate Lisboeta… sou eu. E talvez por isso sinta tudo o que me escrevem na própria pele: cada crítica, elogio ou simples advertência tocam-me como se falassem de mim, do meu cabelo, da minha rectidão ou falta dela.

Parece-me justo esboçar aqui meia dúzia de agradecimentos e convém por isso admitir que dá realmente (ainda) mais gozo escrever para 1000 ou 2000 que fazê-lo para 100 ou 200 e saber que “gosto das tuas fotografias e dos teus textos” é a expressão que resume, da forma mais fiel, o universo dos feedbacks que vou recebendo via comentários, Facebook ou e-mail. Mas antes de mais, dois agradecimentos fraternos. Um ao Mário Fazendas, pelas suas brilhantes traduções, pelas quais provavelmente muitos de vós não terão chegado a dar conta, mas que, como poderão comprovar mais à frente, me trouxeram largas alegrias. Se passarem pelo The Lisbon Tailor, o critério é simples. As traduções que vos impressionarem são do Mário, aquelas que tiverem em média, meia dúzia de gralhas por publicação, são feitas em regime de consórcio entre mim e o tradutor do Google. Ao meu outro amigo, o Rui Quinta, entre muitas outras coisas, obrigado pelos cartões de visita mais bonitos que já alguma vez vi (de fazer suar o Christian Bale em American Psycho), que tornam possível que aqueles que abordo na rua, não achem que é um qualquer tarado que lhes pergunta afavelmente se não gostariam de fazer parte do seu blogue.

Queria agradecer também à Time Out, à TVI 24, à SIC Mulher, ao This is Our Thing, à Sancha Trindade e ao seu espaço no Meia Hora e à Time Out de novo (a mão que nos dão pela 1ª vez é sempre aquela que mais dificilmente esqueceremos) por, de formas distintas e através dos seus diferentes recursos, terem demonstrado genuíno interesse e contribuído para a divulgação do Alfaiate. Não esquecendo também todos aqueles que nos seus blogues, foram criando links e publicando posts sobre O Alfaiate Lisboeta. Agradeço também ao Fashion Real Street Star e à Shopping & Shopper por me terem dado a descobrir que “aldeia global” não é apenas um mero conceito teórico. Dou especial ênfase, às 3 páginas mensais que a Shopping & Shopper (publicação bilingue, baseada em Pequim) pretende guardar para o meu trabalho, naquela que foi, até agora, a proposta mais marcante a ser-me apresentada. Mas mais importante ainda, gostava de agradecer àqueles que me visitam regularmente, em particular aos que vão deixando o que sentem; e mais que tudo e todos que já referi, a quem aqui aparece, porque sem eles…sem eles não existiria Alfaiate.

Restar-me-ia agora, em condições normais, dedicar algumas palavras à imagem do dia. Mas hoje excepcionalmente, o blogue é mais importante que o seu convidado. Só me ocorre dizer que algum dia, o autor de tudo isto teria que parar no mesmo lugar onde convida a entrar, aqueles que com ele se cruzam. Os créditos fotográficos ficam com o João Vieira.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Duas faces duma mesma elegância

Duas faces duma mesma elegância (1)
Duas faces duma mesma elegância (2)

Vestir de preto vai bem com (ter mais de) 1,90m de altura mas continuo a achar que a sua elegância vai bem para além disso..

sexta-feira, 10 de julho de 2009

La Chemise Lacoste – O legado de meu Pai



Acho que o meu Pai esteve mais presente na minha infância do que a maioria dos pais consegue estar. Ainda hoje…comigo quase a roçar os 30, continua a ser a pessoa com quem mais horas passeei de mão dada, com quem mais vezes fui ao cinema e, provavelmente, com quem mais tempo fiquei parado a olhar para uma montra da Lacoste. Cresci a ver o meu Pai usar e abusar daquele Crocodilo e ainda me lembro do dia em que ali mesmo na Baixa, em plena Rua de São Nicolau, fomos comprar o meu 1º Pólo.

You never really own a Patek Phillippe, you merely take care of it for the next generation.” Este é provavelmente o mais bonito slogan publicitário que conheço. Verdade que aquilo que poderá valer para um relógio de luxo dificilmente se aplicará a uma peça de roupa. Mas no meu grupo de amigos, não sou o único a ter tido o privilégio de usar um Pólo Lacoste que tivesse pertencido um dia, a seu pai ou sua mãe; e não sou capaz de me lembrar doutra peça de algodão, que vá a lavar 20 vezes por cada Verão e consiga aguentar o mesmo ritmo por mais 30 anos. Mas vou mais longe, um pouco mais longe… Desde a minha adolescência que perdi a fixação pelas marcas e, acima de tudo, pela exibição dos seus elementos mais distintivos. Mas houve um desses elementos que resistiu sempre à minha maturação – o Crocodilo. Nunca contei isto a ninguém mas tenho umas calças de pinças em bombazina com o Crocodilo bordado abaixo do cós, e quando as uso certifico-me sempre, tantas quantas as vezes que passar junto a um espelho, que o pull-over que tenho vestido não oculta o meu querido Crocodilo. Não o faço por qualquer estatuto… (aliás quanto a presumíveis estatutos…o dito Crocodilo tanto pode ser visto numa esplanada de Saint-Tropez, como na mais problemática periferia de Paris); faço-o por um certo je ne sais quoi que não encontro em mim sem ele (não é este o core business do Marketing? conceber produtos munidos de atributos, acerca dos quais, o consumidor se sinta simultaneamente, desprovido e identificado?). Por algum motivo a Lacoste é a marca mais contrafaccionada em todo o mundo. Por algum motivo usei aquelas calças no primeiro jantar do meu namoro.

Ainda me lembro da satisfação de carregar o saco – “não Pai, eu levo!” – com o dito Pólo branco, já a imaginar a parelha do dia seguinte. Só agora começo a ter idade suficiente para perceber que os primeiros anos de vida são mais importantes que quaisquer outros. E só agora, já com um início visível de falta de cabelo e parte do que dele resta em tons esbranquiçados, retorno aos tempos em que a figura paterna é o nosso herói e percebo que, quer queiramos quer não, para o bem e para o mal, aquela história da socialização primária (mais redefinição de conceito, menos redefinição de conceito) é mesmo assim – marca-nos para sempre. Ainda no outro dia um amigo me dizia que uma das coisas que o teria induzido a seguir Artes tinha sido o impressionante jeito da mãe para desenhar. Não lho disse mas reparei, que nunca o tinha ouvido falar do seu legado materno com tanto orgulho. Eu e o Rui temos a mesma idade, estudámos no mesmo liceu e disputámos juntos a mesma atenção da mesma professora mais gira (do mesmo liceu)…não me intriga também que agora olhemos por cima do ombro de forma idêntica. Por tudo isto e algo mais não é de admirar que, muito antes de um filho meu vestir aquele Pólo encarnado que ali vêem em cima, sua mãe, em plena gravidez, me faça o favor de vestir um daqueles lindos vestidos piquet, quase tão intemporais quanto o famoso Pólo 1212. Fetiche? Talvez. Legado paterno? Sem dúvida. Crédito do Marketing? Não bolas…é Lacoste

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Olho de perdiz – Palácio de Queluz

Olho de Perdiz/Nailhead

O olho de perdiz é um tecido de lã cujo padrão causa um efeito geométrico semelhante à repetição de um olho daquela ave. Muito comum em cinzento ou azul é, na pior das circunstâncias, uma das melhores hipótese para quem, depois de 2 ou 3 fatos lisos de cores diferentes, gostaria de comprar um outro diverso dos demais, mas não se sinta confortável (ou simplesmente não goste) de fatos listados ou com quadrados.

Quando, há pouco mais de 2 meses, escrevia que o fato cinzento seria possivelmente a minha 2ª peça (depois do azul escuro e antes do 1º recurso aos quadrados) evocava precisamente um fato olho de perdiz cinzento claro. Numa lã fresca de preferência, aproveitando o quase constante clima primaveril Lisboeta. Porque para o Verão, não me venham com tretas, seja da mais leve lã pura ou caxemira, algodão fresco, seda ou linho... No Verão, bom mesmo é sem casaco. E se me permitem, para quem pode (que não é o meu caso), sem meias também... (mas acerca de convenções cheias de sentido ou mais que ultrapassadas, de simples preconceitos ou supostas demonstrações institucionalizadas de mau senso como dispensa de meias ou gravata, utilização de camisolas de alças debaixo de um sol de 30º ou calções na noite algarvia, teremos certamente muitas oportunidades para falar...)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Harlem 1981, Restauradores 2009

Harlem 1981 - Lisboa 2009

Ontem, umas boas horas antes de encontrar o Edson nos Restauradores, tinha estado a arrumar as caixas e as gavetas que compõem a habitual desarrumação do meu quarto. Encontrei uma mala a abarrotar de VHSs com filmes e algumas séries. Lá no meio havia uma cassete etiquetada com a Balada de Hill Street. A música do genérico subiu-me imediatamente à cabeça e saí disparado para a arrecadação a ver se resgatava o velho vídeo.

Não sei se noutro dia teria parado para abordar o Edson. Ontem nem hesitei. Os revivalismos mexem comigo, o Edson levou-me de volta.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Michel

Michel

Quantos tipos apreciados pelo seu sapateado conhecem vocês? Não, o Fred Astaire e o Gene Kelly não contam, referia-me a gente viva (com todo o respeito pela outra). Pois…só me ocorre um nome – Michel. Fui pesquisar e descobri que este francês tem um Curriculum Vitae de fazer inveja à Madonna, anda por Portugal há tanto tempo quanto eu (e já lá vão uns anos desde a última vez que beneficiei dum desconto do Cartão Jovem) e toca acordeão quase tão bem quanto “sapateia”. Mas não foi bem descobrir, mais relembrar… o Michel é como o vídeo do The Neverending Story ou o dos Da Vinci, a mão do Maradona ou a do Vataun souvenir d'enfance. Mas para ele aparecer aqui tudo isto pouco ou nada contou. Valeu-lhe apenas o visual sóbrio…e o amigo. Afinal de contas, eu não o reconheci... (as reminiscências são como rasgos de génio da nossa própria memoria, só se nos despertam quando voltamos costas)